Você sabia que os Ensaios Não Destrutivos também investigam obras de arte milenares?
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Blog Abendi

Você sabia que os Ensaios Não Destrutivos também investigam obras de arte milenares?

Quando se fala em Ensaios Não Destrutivos (END), é comum pensar em estruturas industriais, tubulações, soldas, pontes e grandes equipamentos. Mas o que muita gente ainda não sabe é que as mesmas técnicas usadas para garantir a integridade de ativos industriais também são essenciais na investigação, conservação e preservação de obras de arte e patrimônios históricos.

Na arte, assim como na engenharia, existe uma regra inegociável: aquilo que é insubstituível não pode ser testado de forma destrutiva. Um quadro com séculos de existência não admite raspagens, cortes, remoções de material ou qualquer intervenção que comprometa sua integridade original. Cada camada, cada pigmento, cada vestígio carrega uma informação única.

É justamente nesse ponto que os END se tornam fundamentais fora da indústria. Técnicas como espectroscopia Raman, fluorescência de raios X (XRF), luz ultravioleta e reflectografia infravermelha permitem analisar materiais, identificar pigmentos, detectar repinturas, mapear camadas ocultas e apoiar processos de restauro com altíssima precisão. Sem remover material, sem tocar na obra, sem causar danos.

A ciência, nesse contexto, não substitui a arte. Ela a protege.

O mesmo princípio que permite investigar um ícone milenar sem retirar um fragmento de tinta é o que sustenta a confiabilidade de inspeções em dutos, vasos de pressão, estruturas metálicas, soldas e equipamentos críticos. O objeto muda, mas a lógica é a mesma: diagnóstico preciso, tomada de decisão segura e integridade preservada.

Uma relíquia cercada de mistério

Imagine um objeto que atravessou cruzadas, impérios, guerras, desaparecimentos e revoluções, preservando não apenas sua materialidade, mas também um valor simbólico e espiritual que atravessa séculos.

Esse é o caso do Ícone de Filermo, uma das relíquias mais veneradas do mundo cristão. Uma obra que, além de seu valor artístico, carrega uma história marcada por deslocamentos, esconderijos, perdas de pedras preciosas, desaparecimentos durante a Segunda Guerra Mundial e reaparecimentos cercados de mistério.

Diante de algo assim, a pergunta é inevitável: como investigar os segredos de uma obra milenar sem destruí-la?

Hoje, em vez de retirar fragmentos de tinta ou realizar testes invasivos, é possível “ler” a obra por meio da luz. Lasers, sensores e equipamentos ópticos captam informações invisíveis aos olhos, atravessando camadas de tinta e revelando o que está oculto sob a superfície.

É nesse cruzamento entre tecnologia, mistério e história que a ciência encontra a literatura.

Quando a investigação científica inspira um romance

O encontro entre Ensaios Não Destrutivos, patrimônio histórico e mistério ganha forma literária no romance O Ícone de Filermo, da escritora Suzana Meyer Garcia. Sua trajetória ajuda a entender por que essa ponte entre ciência e arte acontece de forma tão orgânica: Suzana é engenheira química, artista plástica, historiadora, museóloga e restauradora, com atuação direta no campo da investigação técnica aplicada à arte.

No livro, essa vivência se traduz na escolha da protagonista, também uma engenheira química, responsável por conduzir a investigação do ícone a partir de métodos que respeitam a integridade da obra. A espectroscopia Raman surge como recurso central da narrativa, apresentada como a ferramenta capaz de acessar, sem contato físico, um segredo preservado por quase dois mil anos na própria composição da pintura.

Na ficção, é essa técnica que sustenta a virada da trama. Fora das páginas, ela ocupa o mesmo lugar em museus, laboratórios e centros de conservação ao redor do mundo, justamente por permitir análises químicas e estruturais sem agressão ao objeto investigado. A literatura, nesse caso, não cria a ciência. Ela parte de um princípio real dos END e o traduz em narrativa, tornando visível ao leitor um tipo de investigação que normalmente acontece longe dos olhos do grande público.

Quando a história deixa de ser abstrata

Para escrever o livro, Suzana decidiu ir além das pesquisas bibliográficas. Diante da escassez de documentação sobre determinados períodos da trajetória do ícone, ela viajou até Montenegro, antiga Iugoslávia, onde a obra está preservada atualmente.

A viagem passou por Malta, Roma, Dubrovnik e seguiu de carro até a cidade histórica onde o Ícone se encontra. No museu, após atravessar salas com documentos militares e acervos históricos, chega-se a um espaço conhecido como Capela Azul. Uma sala em penumbra, iluminada por uma luz suave, onde o Ícone de Filermo está protegido por vidro e sistemas de segurança.

Sobre esse momento, Suzana relata:

“Quando eu entrei na sala onde o Ícone está, foi como se eu estivesse me preparando há anos para aquele momento. Não dá para descrever. Parece que alguma coisa mudou, tive um antes e um depois ali.”

O impacto não é apenas visual. É emocional, histórico, simbólico. O olhar do Ícone, as marcas do tempo, as ausências onde pedras preciosas foram retiradas ao longo da história. Tudo comunica. Tudo carrega memória.

Quando preservar é não tocar

Diante de uma obra como essa, qualquer intervenção invasiva é simplesmente impensável. A retirada de um fragmento, mesmo microscópico, representa uma perda irreversível. Por isso, as técnicas não destrutivas assumem um papel central na conservação e no restauro.

Hoje, com recursos ópticos e espectrais, é possível:

  • identificar materiais sem contato direto
  • compreender intervenções antigas
  • orientar processos de limpeza e conservação
  • evitar reações químicas indesejadas
  • reverter restaurações mal executadas
  • preservar a integridade original da obra

Sobre esse nível de precisão, Suzana explica:

“Hoje, com um feixe de luz que é um décimo da espessura de um fio de cabelo, você consegue fazer análises com uma precisão absurda, sem causar destruição nenhuma na obra.”

Nesse contexto, a diferença entre um ensaio destrutivo e um não destrutivo deixa de ser apenas técnica, ela se torna ética.

Técnica, tempo e preservação

Mais do que conduzir um mistério, a narrativa construída por Suzana convida a um deslocamento no olhar. Ao longo da leitura, o passado deixa de ser algo distante e passa a se manifestar como presença, como algo que ainda pulsa sob as camadas do tempo.

Em suas palavras: “Eu queria que o leitor sentisse que o passado não está morto. Que essas obras têm vida, têm cicatrizes, têm curativos, têm segredos. E que a ciência ampliasse esse mistério, não o apagasse.”

Esse mesmo movimento de ampliação também atravessa o campo dos Ensaios Não Destrutivos. Histórias como a do Ícone de Filermo mostram que os END ultrapassam os limites tradicionais da indústria e se estendem à preservação da arte, da memória e do patrimônio cultural. Para a Abendi, esse olhar ampliado sobre a tecnologia é essencial. Porque a técnica, quando aplicada com critério e sensibilidade, também se torna uma forma de cuidado com o tempo, com o conhecimento e com aquilo que atravessa gerações.

Onde encontrar o livro O Ícone de Filermo

O livro está disponível no site da Editora Europa

Encontro on-line com a autora

Como parte das atividades de lançamento do livro O Ícone de Filermo, a autora Suzana Meyer Garcia participa de um bate-papo on-line para falar sobre a obra, o processo de pesquisa e os temas que atravessam a narrativa.

🗓 Data: 9 de dezembro
Horário: 17h30
💻 Formato: on-line
📩 Inscrições: pelo e-mail labo@pucsp.br

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