Em maio de 2025, Canoas (RS) recebeu uma edição histórica do Workshop de Acesso por Corda promovido pela Abendi. O evento, realizado na sede reconstruída da RAPEX, reuniu instrutores, examinadores e representantes de centros de treinamento de todo o país. Durante dois dias, foram trocadas experiências práticas, revisadas metodologias e aprofundados conhecimentos técnicos.
Mas o que fez dessa edição algo único foi o contexto: exatamente um ano antes, a RAPEX foi atingida pelas enchentes que devastaram o estado. E foi esse reencontro, entre profissionais, entre propósito e prática, que transformou o workshop em um marco para o setor.
A enchente, os resgates e a decisão de continuar
Em 2024, a equipe da RAPEX voltava de um workshop da Abendi em São Paulo quando recebeu a notícia: a enchente seria inevitável. Com a cidade em estado de calamidade, o centro de treinamento foi rapidamente tomado pelas águas e ficou submerso por mais de 20 dias.
Com a operação suspensa, a equipe se uniu à Defesa Civil, atuando nos resgates a partir da Usina do Gasômetro. “Cada minuto longe da linha de frente podia custar uma vida. Nos sentíamos culpados até por dormir”, relembra Roberto Gaspar, instrutor e sócio da RAPEX.
Ao verem os danos deixados pela enchente, equipamentos perdidos, estrutura comprometida, veio a dúvida: seria possível recomeçar?
A resposta veio da própria história da empresa. A RAPEX havia sido, por dois anos consecutivos, o centro que mais formou profissionais de acesso por corda no Brasil e é o Centro de Treinamento Homologado pela Abendi, devidamente acreditado pelo INMENTRO. Essa trajetória deu força para que, mesmo diante do cenário devastador, a decisão fosse de seguir em frente.
Reconstrução e reencontro: o workshop como ponto de virada
A confirmação de que a RAPEX sediaria o Workshop de Acesso por Corda em 2025 tornou-se um novo norte para a equipe. Reconstruir deixou de ser apenas uma necessidade, virou também uma missão.
Quando, finalmente, nos dias 16 e 17 de maio, o centro voltou a receber profissionais de todo o país, não era apenas uma programação técnica que se desenrolava. Era um reencontro com a própria razão de existir da RAPEX: formar com responsabilidade e propósito.
Durante o workshop, representantes da AXIS, CTNR Treinamentos, ROPE, SEABRA, Vertical BRAZ e demais instalações participaram de atividades práticas e discussões com foco em técnicas de desvio, ancoragens, inspeções, simulações de resgate e processos de avaliação.
O evento também gerou um avanço concreto: a conquista da possibilidade de, em edições futuras, incluir participação de público externo nos workshops técnicos, ampliando o acesso ao conhecimento e fortalecendo a cultura colaborativa do setor.
Técnica, ética e valorização humana: o papel da Abendi
O reencontro com o setor também foi um lembrete sobre a importância da estrutura que sustenta o acesso por corda no Brasil: a Abendi.
Além de pioneira no Brasil em Certificação de Acesso por Cordas, Roberto ressalta: “A Abendi não apenas certifica, ela forma. Valoriza o ser humano e promove a segurança com ética e postura firme”. “O alinhamento com a ABNT, o foco em compliance e a estrutura do SNQC tornam o processo de certificação mais técnico, mais justo e mais transformador.”
Segundo ele, o diferencial da Abendi está justamente na integração entre os avaliadores e os comitês técnicos da ABNT, o que garante que os exames reflitam não apenas um padrão formal, mas um compromisso real com a prática de campo e com o crescimento dos profissionais. “O conhecimento flui antes, durante e depois do exame.”
A evolução do acesso por corda no Brasil: avanços e desafios
Para quem atua com segurança em altura, o acesso por corda no Brasil tem passado por uma transformação significativa. O processo de certificação tornou-se essencial para consolidar metodologias aplicáveis ao trabalho seguro, respeitando normas técnicas e exigências legais.
Roberto destaca que os desafios seguem sendo grandes, especialmente porque cada atividade exige uma análise de risco detalhada, um plano de resgate contextualizado e um planejamento técnico que se adapta a cenários variáveis. “Não existe um modelo único. Cada operação é única, e por isso a formação precisa ser profunda, contínua e realista.”
Desde a criação da NR-35 em 2012, suas atualizações (especialmente em 2022 e 2023) e a entrada do e-Social como ferramenta de fiscalização, a contratação de empresas especializadas passou a exigir maior rigor. Paralelamente, a atuação da ABNT na construção e revisão de normas, muitas vezes orientando até o trabalho de peritos e juízes, reforça um ambiente de maior responsabilização.
Tecnologias como realidade aumentada, inteligência artificial e plataformas de ensino imersivo vêm acelerando o processo de qualificação. Mas, para Roberto, elas só fazem sentido se aliadas a uma base ética e prática sólida. “A segurança em altura está em constante evolução, mas só será efetiva se empresas e trabalhadores mantiverem o compromisso com a melhoria contínua das condições de trabalho.”
Segurança como propósito
Encerrar o workshop na RAPEX foi mais do que concluir uma agenda técnica. Foi uma afirmação de que reconstruir é possível, e necessário.
“A tragédia no Rio Grande do Sul ainda ecoa. A cada chuva forte, sentimos o impacto”, afirma Roberto. “Mas maior que o medo é o desejo de seguir em frente. De se tornar melhor como pessoa, como profissional, e de ensinar com excelência.”
Ele finaliza com o que resume o espírito da RAPEX:
“Nossa missão como Organismo de Treinamento Homologado pela Abendi e acreditado pelo Inmetro é garantir que os processos de certificação sejam respeitados pelos mais altos critérios de segurança, ética e compromisso. Estamos de portas abertas para quem busca conhecimento, qualificação e crescimento profissional. Voe alto.”
